Crónica de Alexandre Honrado
E a guerra aqui tão perto
Muitos dos que hoje estendem a mãozinha em revivalismo político têm as unhas sujas de ignorância e não de folhear livros profundos ou de pesquisarem no Google alguma ideia aproveitável.
O autoritarismo (somado ao decadentismo) russo, colocou a outrora grande potência mundial numa situação amarga e a reclamar mobilização de novos recursos para se afirmar nas páginas da história do século XXI e até no pequeno capítulo que escreve, solitário e hipócrita diante dos seus povos que têm muitas cicatrizes e o que resta das memórias vivas dos seus antepassados.
Se outrora os russos apontavam como seus os erros da esquerda, da ditadura que provocou tantos desastres sob o formato soviético (da guerra civil ao Gulag, passando pelo holodomor, isto é, um formato de genocídio que se traduziu pela imposição da fome e da morte a milhões de pessoas), hoje sofrem a repressão encandeada pela crosta da Democracia, num one man show que se apresenta com a designação genérica de Federação Russa, república semipresidencialista federal que tem o Presidente como chefe de Estado e o Primeiro-ministro como chefe de governo e que na prática se subordina às ideias e decisões de Vladimir Putin (e que muitos designam como o putinismo).
A Rússia é politicamente um espaço que traduz até onde pode chegar o provincianismo, espaço que é formatado pelos maneirismos (e autoritarismo) de um ex-membro da antiga polícia secreta soviética, o tristemente famoso KGB, ex-presidente e ex-primeiro ministro da Federação Russa (por duas vezes), que em maio de 2012 foi novamente eleito presidente da república de seu país, urdindo uma legislação à sua medida, para se perpetuar à frente dos destinos russos. A somar às quatro vezes em que assumiu os mais altos cargos da política russa, a sua filosofia de administração tem o apoio incondicional do atual primeiro ministro, o também ex-presidente, Dmitry Medvedev – fiel aliado e seguidor de Putin.
Hoje, a Europa estremece a pensar que a guerra – flagelo e pesadelo que já destruiu várias vezes o Velho Continente – está a voltar a partir da Rússia e sobretudo a partir das decisões de Putin, apontando novamente os desígnios da morte à Ucrânia, que tem no coração a marca negra dos tempos da União Soviética, muito especialmente o holodomor, também conhecido como a Fome-Terror e por vezes referido como a Grande Fome. Explicando: foi a fome infligida na Ucrânia Soviética de 1932 a 1933 que causou a morte de milhões de ucranianos.
Mesmo entre os pacifistas, a nova ameaça de guerra é um tema mobilizador. É por ventura mais uma das vergonhas da história da humanidade.
A paz, mesmo parecendo uma das nossas últimas utopias, exige a nossa mobilização. Uma nova forma, esta do pacifismo, de dar sentido ao poema que reclama: “contra os canhões, marchar, marchar”.
Alexandre Honrado
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